quarta-feira, 3 de junho de 2009

Beleza blindada


Este ensaio explora interseções entre cotidiano, tecnologia e arte, por meio da vivência em espaços físicos e virtuais através de derivas pela cidade e navegação pelas redes, usando telefone celular, câmera digital e internet...






...a visibilidade da cidade filtrada pela "blindagem" do olhar que se move através de veículos filtrados por insulfilmes...






...a incorporação de elementos do veículo como constituintes da paisagem...





...a beleza construída a partir de um olhar que se desloca, que tem velocidade, que tem o filtro de insulfilm, que mantém o foco na direção atenta, que não pode nunca se desviar...





...a experiência de fotografar percursos repetidos no cotidiano...






...a demanda de humanização da paisagem, criando personagens companheiros na viagem...






...a abertura para o céu, escape da blindagem, janela possível do olhar...






...criando frestas, espaços para as limitações da mobilidade vertical do olhar...





...criando abstrações, destruindo os signos marcadores da cidade, resignificando a paisagem limitada...






...explorando as possibiliades da luz invadindo o espaço "blindado"...





...colagem de fragmentos do homem, da máquina, da paisagem, da "blindagem", através de uma composição que de unidade a estes múltiplos fragmentos...









...identidade reconstruída a partir de rastros, flashes, fragmentos, expressando um olhar mais integrado com as realidades materiais da vida cotidiana, ou seja, a blindagem, a velocidade, o filtro de vidros, a extensão das inteligências pelas tecnologias das cameras-celulares.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Muro de Quintal



A casa da vizinha é
tão silenciosa...
um pequeno alarido de passarinhos,
um oi, um tchau,
um barulhinho de cozinha.
Pra mim sempre fora assim:
a silenciosa casa da vizinha...

Semana passada, o golpe.

O marido morreu,
na tarde em que fazíamos
o bolo de maçã com cheiro de canela.
A cozinha iluminada de sol,
uma brisa tranqüila vinda
do jardim,
os filhos de férias, risadinhas,
a paz, o lar, a rotina da família.

E, contudo...
do lado de lá,
dentro do silêncio, a morte, muda.

A morte é esse muro do meu quintal,
separando os terrenos vizinhos,
Do lado de cá, passarinhos no jardim,
a tarde calma.
Do lado de lá, a dor, a perda,
esgarçando corações e mentes,
gemidos lancinantes, dementes,
gritos pungentes.

Coveiros ,
galhofando na labuta, nos cemitérios ensolarados.
As almas,
vagando e gemendo e expiando suas penas,
na noite,
escura.

A-rotina-e-o-espanto.
Silêncio
e grito.

Assim também sou eu.
Quem me vê não pensa,
que estou partida.

Acordo sobressaltada, em suores, do pesadelo.
Tudo fora somente um sonho,
mas poderia ter sido.