segunda-feira, 1 de junho de 2009

Muro de Quintal



A casa da vizinha é
tão silenciosa...
um pequeno alarido de passarinhos,
um oi, um tchau,
um barulhinho de cozinha.
Pra mim sempre fora assim:
a silenciosa casa da vizinha...

Semana passada, o golpe.

O marido morreu,
na tarde em que fazíamos
o bolo de maçã com cheiro de canela.
A cozinha iluminada de sol,
uma brisa tranqüila vinda
do jardim,
os filhos de férias, risadinhas,
a paz, o lar, a rotina da família.

E, contudo...
do lado de lá,
dentro do silêncio, a morte, muda.

A morte é esse muro do meu quintal,
separando os terrenos vizinhos,
Do lado de cá, passarinhos no jardim,
a tarde calma.
Do lado de lá, a dor, a perda,
esgarçando corações e mentes,
gemidos lancinantes, dementes,
gritos pungentes.

Coveiros ,
galhofando na labuta, nos cemitérios ensolarados.
As almas,
vagando e gemendo e expiando suas penas,
na noite,
escura.

A-rotina-e-o-espanto.
Silêncio
e grito.

Assim também sou eu.
Quem me vê não pensa,
que estou partida.

Acordo sobressaltada, em suores, do pesadelo.
Tudo fora somente um sonho,
mas poderia ter sido.

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