domingo, 29 de abril de 2012

pequeno abismo: modos de atravessar





a cada esquina, o pequeno abismo.
da calçada, a beirada. desequilíbrio e vertigem.
o passo, descompassa,
na rota, que entorta a derrota?

ousemos a linha. a beleza. e a lua.
mirando infinito.
uivando melodias.

na travessia,
a reposta nem é se...
nem onde. nem quando.
nem mesmo é resposta...

é filosofia.
é como.
é dança. 

desequilíbrio e vertigem.
doce bá(quico) veneno
salto, anar(quico) e balanço
não alcanço.
só(me) lanço.





pequeno abismo


beira da calçada. pequeno abismo. o passo.
a fé inabalável nos sinais.
respiro. me equilibro.
mas posso o tempo parar?

fecho olhos. abro espírito.
confio e vamos, todos nós.

nada há em beiras de calçada.
a outra margem.
a terceira, é o que há.

e através(cia)
a trave, se há...


pulo, salto.
no escuro.
tenho a alter(idade)
como companhia.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sobre ver entre ruínas

“A pessoa que não consegue enfrentar a vida – sempre precisa, enquanto viva, de uma mão para a afastar um pouco de seu desespero pelo seu destino… mas com a sua outra mão ela pode anotar o que vê entre as ruínas, pois vê mais coisas, e diferentes, do que as outras; afinal está morto durante sua vida e é o verdadeiro sobrevivente.” Franz Kafka. Diários. Apontamentos de 19 de outubro de 1921

sábado, 21 de abril de 2012

Filho Poiema



somente um chamamento
de imperiosa urgência
fazer da práxis e da léxis,
o tudo que fui, fiz e falei,
ao vão escuro do tempo,
ao breu das horas,
ao inelutável perecimento sob o firmamento,
uma poiésis,
partejamento
do filho dileto,
feito da carne
das minhas palavras,
que vindo a luz,
rasgando a alma,
em contrações e espasmos
muito próprios,
ritmo e métrica,
o rebento,
o Poiema.

Já não era assim sem tempo
de amparar-te sob um teto,
ao abrigo do tempo,
morada terrena,
a casa,
o livro
de poemas...

No destino da obra,
todo meu suor e entendimento.
Armada de cimento e prumo,
ergo as paredes contra o tempo,
e as intempéries
de minha própria natureza
que me espreitam
e tanto atormentam.

Mas sigo firme,
pois a fenda do absoluto
não se abre assim
a qualquer chamamento.

Estar consciente
deste momento,
a forma a me convocar
ao derradeiro enfrentamento,
o risco, o abismo,
em que somente o Poiema, completo,
satisfaz a voracidade
da travessia,
e do desvelamento.

Obremos, pois!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DECLARAÇÃO DE AMOR (in extremis)


podes prosseguir,
sem que teu corpo se quede para trás

tudo sempre foi
como deveria ter sido

te amar sempre foi
(realizada a promessa cumprida)
simplesmente estar a seu lado

QUANDO UM SUPER-HOMEM CHORA




perto do fim
o gosto é o doce
a cor, azul infinito
o perfume, do leite pingando na boca do filho

nada se perturba ao redor
em meio a silenciosa despedida

tudo é invadido pela mais que espantosa
pax
o coração se expande
na generosidade de aceitar o todo
do mundo

a mulher bela
não é mais causa de dor
nem de envídia
apenas é
e a alma se enternece
no amor à beleza
à forma
à

tudo é como deveria ter sido
e deve voltar a girar
nas voltas do mesmo círculo
eterno-retorno
eternamente

tolo, o homem,
quando ainda imortal
e desconhece liberdades,
o afirmar-se na ponta do abismo

sim, te compreendo,
o absoluto enternecimento
no qual caíste em prantos
aos pés do animal, esbelto e belo,
que junto a ti sucumbia

perto do fim
o amor por tudo aquilo que é vivo

domingo, 1 de abril de 2012

NOITE DESENLUARADA



Caminhei por horas sozinha
à beira do mar,
mas sem ver o céu,
... sem ouvir o mar.

Seguia minhas pegadas
e perdia tanto tempo,
enfestada de dúvidas,
povoada de lamentos.
Acompanhada de más companhias,
tantos e tantos pensamentos.

Não sei bem o que foi, então,
se uma rajada de vento,
e perdi o prumo talvez,
ou , quem sabe, a escuridão da noite,
que se avolumou,
e me clareou por dentro.
Mas o fato é que calei-me
e por muito tempo
fomos só tu e eu.
Eu, arrepio e gozo,
finalmente presença.
E tu, definitiva,
a falta que constitui
o espaço aberto em meu corpo,
lugar justo ao abrigo
da minha alma, em tormento.

Tu, querida amiga
forma bela, esculpida
no seio da linguagem que fala
e trouxemos, juntas, à luz.
Estrela longínqua, para sempre
presença luminosa de uma ausência.

Mãe também e amiga,
que me pariu na carne
das tuas palavras,
que me gerou da carne
das minhas palavras.
Este momento é para ti.
Brindemos nós aqui e ainda
às lindas noites desenluaradas,
em que juntas, contaremos histórias
e vencerermos o tempo
e algumas longas madrugadas.

A GRANDE LUTA



O amor sobrevive quando morre...
e renasce,
mais uma e outra vez,
... diverso, desconhecido, surpeendente,
como minha pele que descama
e amanhã será outra,
deixando antigas roupas pelo caminho.

O amor acaba quando definha...
e desaparece,
sem que ninguém perceba
que já não estava ali.
Amor-mendigo,
amor-velho,
amor-doente.

O amor é luta...
não é para amadores,
mas sim guerreiros,
que arriscam tudo,
que não vacilam.
Os fortes,
que avaçam na frente da batalha,
sangrando a pior ferida.
Os fortes, os nobres, os verazes,
os verdadeiros .
Guerreiros de sangue frio
e coração quente.

Quem quiser que se prepare,
armado de coragem
e sô.
Despido de tudo que sabe,
ouviu, viu, aprendeu.
Nu,
o vento a contrapelo,
e o enorme arrepio,
das noites que precedem e metem medo,
antes de mais um,
e outro dia quente,
ao calor do sol.

O amor é guerra,
tem batalhas,
tem início, meio e fim,
e só termina quando temina a luta.

O amor é glória,
não é paz.

MUDANÇA DE VENTOS



A dó que tenho do barco a deriva e solitário
é grande o bastante pra achar que é forte e belo,
mas nem tanto pra que eu vá com as pernas que são minhas, tão longe que estou, ao encontro de seu destino.
...
O olhar admirado por sua imponência e porte,
é enorme o tanto pra que eu alerdeie seus feitos,
mas não tanto pra que eu embarque, abandone a minha terra agora firma e seja sua capitã ou guia.

A brisa que corre solta e suave em sua proa,
é doce o bastante pra que eu veja que navega macio,
mas não pra mim que dei pra marejar em navios.

O barco é grande e todos o cobiçam,
mucamas, garçons, muitas festas e amigos.

Mas como explicar o súbito desinteresse
pelas vagas bravias.
Como até entender que o turismo
perdeu sua fantasia.

Tardo em admitir,
mas ando gostando,
do pé na areia,
a marola suave,
sem grandes viagens,
sem tanta companhia,
apenas um mergulho
com gosto de sal
um sorriso solto
e uma fácil alegria.

UM CERTO CLIQUE


O mar é infinito
mas já não há olhos para olhá-lo.
O sol de um calor profundo,
... e onde corpos pra desfrutá-lo.
O céu criando bichos tão divertidos,
mas e os sorrisos que já não se abrem?

A paisagem parece igual,
tudo está no mesmo lugar.
Mas nesse teatro
que não se repete,
os atores estavam ausentes.

Até mesmo a objetiva,
que ousou capturar o instante,
se traiu, tão desobjetiva...

Ai, o devir soberano,
que não aprisiona,
nem liberta,
mas roda em círculos,
e para, às vezes,
pra que no impulso,
possamos saltar.

Saltar do enquadramento
é tarefa que parece complicada,
mas talvez seja apenas
esquisita...

Quem sabe se não precisa,
de um pequeno rodopio,
e tonto o fotógrafo,
reenquadre o horizonte
que desconhecia.

Movimento, giro, pulo,
salto, fé, alegria.

NÃO PERECERÁS



“Não sou quadro para viver preso numa moldura e dependurado na parede. E que são as fronteiras de uma cidade, eu pergunto, senão os limites estreitos de uma moldura mais ou menos de luxo, na qual pretendem sufocar a imensidão de minha alma imortal, como diria um grande poeta ou qualquer seminarista, em tarde de primavera?”(Campos de Carvalho – A Lua Vem da Ásia)


Quando alguém desiste de si,
quando alguém se deixar esquecer
na sarjeta do tempo,
num canto qualquer dos dias,
é porque ronda e espreita
a morte do espírito.

É preciso o praticar de algumas horas por dia
o não envelhecer de si de mesmo,
reencantar o quarto escuro da alma,
reinventar um amor possível
por si...

antes que a natureza e seus cipós envolventes
se enredem e seduzam você
a se infiltrar no orgânico do mundo.
porque é preciso que se diga
ao som de trombetas
cirenes, buzinas:

_ O destino do Homem não é natural!!

Seres lançados no tempo,
escrevemos na história o destino moral,
fazendo do mundo
monstruoso teatro inatural,
sondamos o artifícial,
flertando com o imortal.
Somos o espírito
e encarnamos o Humano
que não perece
jamais...

Corpo Novo



liberem meu corpo
liberem meus fluxos
libera geral
... disse o poeta.

gemido do sim,
que se expande...
que se expande.....
que se expande.......

no dia seguinte
acertaram a garrafa na minha janela.
a janela fechada,
a de dentro e a de fora.

tem gente que só ou(viu) estilhaços.
eu não tive tempo,
o líquido jorrava
espesso
grosso
abundante
quente
deixando em curto
aqui dentro tudo

claro, escuro,
claro, escuro, claro, escuro
claro, escuro, claro, escuro, claro, escuro,
pii___________,
piiiiiii__________________,
piiiiiiiiiiiii_________________________,^____^__^^^^^, pi, pi, pi, pi,

^agora^
^eu, você, todo mundo, nós^
^desatando os nós^
^instante^instante^instante^
^luz^

água fluindo
eletri-cidade
curto-agora
curto-gozo
parto luz

chame a enfermeira!!!
não limpe a sujeira
não corte o cordão

eco do som
eric-son
fio de pele
tecido em mim
um corpo, enfim
filho, então.

NOVAS TECNOLOGIAS



máscara digital
mictório virtual
escoem seus fluxos,
líquidos, fluidos
para o meio da rua!

é isso mesmo,
foliões,
a ordem é essa
mijar na rua!

a convergência é sempre
na pólis, política
é capital!

cariocas, reuni-vos!
nosso carnava cultural
nosso bacanal digital
é de bloco ou de rede
mas é folião de rua.