quarta-feira, 24 de agosto de 2011

do amor impossível entre uma gaivota e o sol



O pássaro branco está sempre só.
Nele não resplandecem
as cores do bando,
o azul da celeste arquitetura,
o negrume terrestre,
nem a verdejante mobília vegetal.

O pássaro branco é estranho e estrangeiro
a tudo o que há na terra de mais familiar.
Sem lugar ao sol no colorido ninho,
habita as alturas do que é sub-lunar.
Alvo, claro, irisado e febril,
risca os céus como um cometa a rodopiar.

É alma alada.
Quer seguir seu destino
de voar e habitar
em círculos de luz
e, num ímpeto, se entregar
aos píncaros azuis.

O pássaro branco e seu destino.
sem pincéis de colorir,
sem ninhos a construir,
sem liras pra entoar,
mas apenas desenhar
em seu traçado um voar.

Sua filosófica e invisível escrita de luz,
em sua existência que brilha e reluz,
renúncia pela qual se conduz.
Quem aplaudirá seu bailado
além daquele que, em verdade,
o amar?

Somente aquele que se fez sol
e mergulha tão belo
todos os dias no mar.

Poema inspirado em F. Nietzsche. 'É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante".

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