segunda-feira, 29 de outubro de 2007

PERIGOSO MORIBUNDO



ao meu amigo Jorge Albuquerque

Meu amigo, meu amigo, meu amigo, meu amigo...
Já não sei se somos tu e eu loucos
ou se prisioneiros em um campo nazista.
Ou serei eu então criminosa e bandida,
pestilenta, leprosa, perigosa... banida.

Meu crime é, isso sim, essa vil sanidade
de não irromper qual um desvairado,
drogado, pirado, contraventor, infrator,
me insurgir contra a lei que regula a tua morte
naquele lugar que sequer tem um nome
e ao qual eles chamam
economica-mente:
C-T-I.

A sigla repele o afago em teu rosto.
O gesto algemado, assassino perigoso.
A sigla esfria o calor em minhas mãos.
O corpo gelado na câmara de gás.
A sigla proíbe a presença humana.
O corretivo do louco, a camisa de força.
A sigla aprisiona o horário de visita.
O ir e vir do criminoso, impedido.


Queria saber de um disfarce, um ardil,
para ir até ti e quieta,
ali.
Iria buscar a ponta do fio
que mantém você indefeso e preso
às máquinas da tortura infernal,
máquinas da solidão radical.
Que sina impingida aos homens
homens chamados moribundos,
palavra, tabu, feito um crime.
Seguiria a percorrer este fio a cada palmo
em argumentações necessariamente racionalíssimas.
E com os doutores da vida e da morte
desembaraçar-te-ia das teias que te enredam
nos discursos poderosos da ciência e da saúde
que ordenam e coordenam
a tua morte e também
a tua vida.

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