sábado, 21 de abril de 2012

Filho Poiema



somente um chamamento
de imperiosa urgência
fazer da práxis e da léxis,
o tudo que fui, fiz e falei,
ao vão escuro do tempo,
ao breu das horas,
ao inelutável perecimento sob o firmamento,
uma poiésis,
partejamento
do filho dileto,
feito da carne
das minhas palavras,
que vindo a luz,
rasgando a alma,
em contrações e espasmos
muito próprios,
ritmo e métrica,
o rebento,
o Poiema.

Já não era assim sem tempo
de amparar-te sob um teto,
ao abrigo do tempo,
morada terrena,
a casa,
o livro
de poemas...

No destino da obra,
todo meu suor e entendimento.
Armada de cimento e prumo,
ergo as paredes contra o tempo,
e as intempéries
de minha própria natureza
que me espreitam
e tanto atormentam.

Mas sigo firme,
pois a fenda do absoluto
não se abre assim
a qualquer chamamento.

Estar consciente
deste momento,
a forma a me convocar
ao derradeiro enfrentamento,
o risco, o abismo,
em que somente o Poiema, completo,
satisfaz a voracidade
da travessia,
e do desvelamento.

Obremos, pois!

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